..."A música é o único domínio em que o homem realiza o presente. Por imperfeição da sua natureza, o ser humano está destinado a sofrer o ser do tempo - das suas categorias de passado e de futuro - sem nunca poder tornar real, logo estável, a do presente.
O fenómeno da música foi-nos dado com o único fim de instituir uma ordem nas coisas, incluindo - e principalmente - uma ordem entre o homem e o tempo. Para ser realizado, exige, pois, necessariamente e unicamente, uma construção. Efectuada a construção, atingida a ordem, tudo está dito. Seria vão procurar nela ou esperar dela outra coisa. É precisamente essa construção, essa ordem atingida que produz em nós uma emoção de um carácter absolutamente particular, que nada tem em comum com as nossas sensações correntes e as nossas reacções resultantes de impressões da vida quotidiana. Não é possível precisar melhor a sensação produzida pela música do que identificando-a com a que provoca em nós a contemplação do jogo das formas arquitectónicas. Goethe compreendia-o bem ao dizer que a arquitectura é uma música petrificada."
Stravinsky, Chroniques de ma vie, Paris, Denoël, 1935, 2000, pp.69-71
30.8.05
Música em Stravinsky
..."A música é o único domínio em que o homem realiza o presente. Por imperfeição da sua natureza, o ser humano está destinado a sofrer o ser do tempo - das suas categorias de passado e de futuro - sem nunca poder tornar real, logo estável, a do presente.
O fenómeno da música foi-nos dado com o único fim de instituir uma ordem nas coisas, incluindo - e principalmente - uma ordem entre o homem e o tempo. Para ser realizado, exige, pois, necessariamente e unicamente, uma construção. Efectuada a construção, atingida a ordem, tudo está dito. Seria vão procurar nela ou esperar dela outra coisa. É precisamente essa construção, essa ordem atingida que produz em nós uma emoção de um carácter absolutamente particular, que nada tem em comum com as nossas sensações correntes e as nossas reacções resultantes de impressões da vida quotidiana. Não é possível precisar melhor a sensação produzida pela música do que identificando-a com a que provoca em nós a contemplação do jogo das formas arquitectónicas. Goethe compreendia-o bem ao dizer que a arquitectura é uma música petrificada."
Stravinsky, Chroniques de ma vie, Paris, Denoël, 1935, 2000, pp.69-71
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Música, harmonia, matemática, poesia...
ResponderEliminarMuito curioso (para mim, claro) "ver" o modo como os génios (de qualquer área do saber-ciência ou da arte) falam sobre o fruto da sua genialidade. Normalmente apontam como paralelas a harmonia e a beleza percebida a partir da "obra". Como construção, como resultado de empenho, de devaneio com fim preciso.
A música, o tempo... pela música realizar o presente! que perspectiva fantástica sobre a Música... guardarei sempre, d'agora para depois, então nesse caminho para o futuro, essa possibilidade de permanência, de consciência do tempo: a música!
Como esta ideia de condenação humana, de "pairar" entre passado e futuro, como se nada se tivesse e tudo ainda nos faltasse... bom, mas sobre isso não vou "estender-me" mais, fui ao post "Felicidade" deixar o que Vergílio Ferreira escrevera e me parece ser quase hino das minhas leituras por aqui, este espaço onde aprendo deleitando os olhos pelas imagens e leituras a reter!
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